Marcelo Dutra da Silva
As oportunidades de uma economia sustentável, 15 anos depois
Por Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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Há exatos 15 anos, em dezembro de 2007, neste mesmo Jornal, eu arriscava as primeiras linhas sobre o futuro do emprego verde. Na época, era professor e coordenador do curso de Bacharelado em Ecologia da Universidade Católica de Pelotas e vivíamos o furor das boas perspectivas do mercado sustentável. E mesmo que a compreensão dos processos fosse muito menor que a que temos agora, que os mecanismos e políticas públicas fossem incipientes e muitas sequer existiam, já havia clareza suficiente sobre práticas que hoje são adotadas com muito mais naturalidade, sobretudo nas empresas.
O Brasil já responde por 10% dos "empregos verdes" no mundo. Ocupa a segunda colocação entre maiores empregadores da indústria de biocombustíveis, solar, hidrelétrica e eólica. Nossa matriz energética limpa e o enorme potencial da economia verde podem alavancar o desenvolvimento brasileiro e abrir um nova fronteira de empregos sustentáveis. Quem sabe, a maior economia verde do Planeta.
Nas linhas de 2017 eu dizia... Em uma economia moderna de elevados investimentos em marketing, o esforço pela imagem de empresa responsável, de visão integrada às questões sociais e ambientais, de desenvolver com características de sustentabilidade tem provocado no mercado uma revolução sem precedentes. Novas oportunidades de empregos surgem a cada dia, desde a reciclagem até a maior eficiência energética e o desenvolvimento de fontes renováveis de energia. Exatamente o que estamos vendo, agora.
"Os empregos estarão mais ameaçados onde os padrões ambientais são baixos e onde falta agilidade para inovações em prol de tecnologias mais limpas", declarou Michael Renner, autor de Working for the Environment: A Growing Source of Jobs - pesquisa que revelou um potencial imenso para criação de empregos fora das indústrias extrativas, empregos que não dependem do processamento gigantesco de matérias primas em uma só direção, e da transformação de recursos naturais em montanhas de lixo. E destacou Renner que o desafio para a sociedade é proporcionar uma transição justa para os trabalhadores que perderão seus empregos nos setores de combustíveis fósseis e da mineração.
Também arrisquei algumas estimativas... Boa parte dos novos empregos está sendo gerada no setor elétrico, no campo das energias renováveis (solar e eólica) e na expansão da reciclagem. Até 2020, estima-se que esta forma de geração poderá representar 10% de toda a geração de eletricidade e emprego para aproximadamente 1,7 milhões de pessoas. A boa notícia é que ultrapassamos essa marca. De acordo com a Operadora Nacional do Sistema Elétrico, a eólica representa hoje 11,9% do total de energia gerada e a solar 2,8%. E as milhares de pessoas que já atuavam no setor viram o montante de vagas mais do que triplicar.
De tudo, a única coisa que parece não ter mudado muito neste tempo é a demanda por mão de obra qualificada. Surgiram novos cursos, novas áreas de formação e mesmo assim a necessidade por profissionais habilitados é grande e não vem sendo plenamente atendida. Precisamos de formação técnica, de graduações e pós-graduações integradas com o mercado de trabalho. Os novos tempos impõem propósito, inclusive na preparação intelectual e prática para as novas gerações do trabalho, que não é só verde e sustentável, mas muito mais especializada. Tanto que no final recomendei: empresas deverão estabelecer protocolos com universidades e outras instituições de ensino e pesquisa de modo a patrocinarem educação especializada em áreas cruciais do negócio. E questionei: será que estamos preparados para este novo desafio?
Ainda não estamos!
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